History, ITV e suas micro-histórias sobre o Titanic

O Titanic é um dos temas mais fascinantes que a humanidade produziu, muito antes do célebre filme homônimo de 1997, dirigido por James Cameron, um dos três mais vitoriosos em Oscar na história, ao lado de “Ben-Hur” (1959) e “Senhor dos Anéis – O retorno do rei” (2003), os três com 11 estatuetas (“Ben-Hur” leva vantagem no desempate, porque venceu em cerimônia com bem menos estatuetas distribuídas que as outras duas produções). O transatlântico de 1912, até então o maior veículo construído pelo homem, fascina por diversos outros aspectos.

Mesmo quando não estavam descobertos seus destroços, o que ocorreu somente após expedição arqueológica bem-sucedida de Robert Ballard em 1985, o naufrágio já tinha sido tema de dois filmes e diversas representações artísticas na história. Isso porque ele foi um microcosmo que representou quase de tudo da sociedade da época, prestes a colapsar na 1a Guerra Mundial, exatamente pelos mesmos motivos que afundou o Titanic e se delineou sua tragédia: disputa internacional, luta de classes, arrogância humana, avanço científico etc.

Documentários aos montes

Por isso, mesmo antes e depois do consagrado filme, documentários interessantes não faltam sobre o navio. Um deles é produzido pelo próprio James Cameron: “Ghost of the abyss” (2005), em que o diretor e seus amigos cientistas (muitos dos quais são personagens do navio explorador que busca a joia “Coração do oceano”, seguem o trabalho que é retratado na obra de ficção e entram com robôs nos destroços do transatlântico para encontrar artefatos antigos, seja do próprio navio seja dos passageiros de primeira classe.

Outros são interessantíssimos fora do multiverso de James Cameron. Canais especializados em documentários, como History Channel e Discovery Channell, dispõem ao espectador minúcias curiosíssimas da história, em forma de documentário. Em “Titanic: um acidente e muitos culpados”, History nos leva aos tribunais subsequentes ao afundamento do navio, retornando às cenas do naufrágio como flashbacks dramatizados do julgamento de Bruce Ismay, o dono da White Star Line, que operava o Titanic.

Em “Titanic: birth of a legend”, da ITV Studios, conta-se a história da engenharia do Titanic e como foi criada pela equipe de engenheiros de Thomas Andrews, famoso personagem amigo de Rose no filme de Cameron, que desaparece acertando o relógio do salão de festas ao som de “Perto meu deus de ti” em violinos, um dos momentos mais tocantes do filme. Ali, dramatizado com outros atores, é claro, vemos o trabalho de Andrews para projetar o que seria o navio “inafundável” e por que tinha esse apelido.

Descobertas em muitas camadas

Todos esses documentários, em linguagem super tradicional, “voz over” sobre as imagens e dramatizações simples, conduzem o espectador a detalhes sobre o Titanic que não se acabam. E por quê?

Porque a metáfora social e humana do Titanic, embora ele não tenha o aspecto trágico de outros eventos como o 11 de Setembro ou massacres humanitários como o holocausto, é muito forte e muito lúdica. A injustiça social aplicada a quem vive e quem morre, o valor de quem trabalhou até o navio afundar, as decisões tomadas baseadas na megalomania do fim da Era Vitoriana, tudo expressa o que foi uma época de uma elite burguesa poderosa e arrogante, junto a uma classe trabalhadora sem direitos e de uma visão cientificista, porém exageradamente antropocêntrica, da realidade.

Estudar o Titanic é olhar para a expressão mais absurda e caricata das desigualdades que temos ainda hoje, e entender um microcosmo que prenunciava o cataclismo da sociedade europeia da época, prestes a se encontrar com a 1a Guerra Mundial.



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