Pokémon, a simplicidade e colecionismo gamer

Os jogos de pokémon para a geração Nintendo Switch incorporam elementos RPG e se tornaram jogos avançados, quase nivelando o modelo portátil ao console standard em termos de experiência visual e de jogabilidade. Contudo, nos últimos 30 anos, jogar “Pokémon” era uma experiência até certo ponto trash. Bonequinho visto de cima, poucas cores, batalhas por turno com avatares fotográficos, músicas repetitivas.

Então por que o amávamos? A resposta mistura diversos elementos, mas sobressalto aqui o reforço comercial e de aprofundamento de cenário dado pelo desenho, o colecionismo e até mesmo a simplicidade do formato. Jogar “Pokémon” era a experiência de repetir as mesmas coisas, mas de forma diferente. Era criar na própria cabeça a história do desenho, mas consigo no lugar de Ash. Era poder se divertir de forma descompromissada, se comparada aos títulos mais elaborados.

Os três elementos

Versão similar à original era precária em gráficos, mas prática e rica em experiência

“Pokémon" era, absolutamente, um jogo sobre colecionismo. Primeiro, 150 variáveis de monstros com poderes mágicos, que se enfrentam, treinados por um líder humano, que é o jogador. Daí existem várias formas de obtê-los, seja capturando em áreas selvagens, seja evoluindo-os para as formas mais avançadas, seja trocando com companheiros – já que os jogos não continham em si todos os 150, dadas as versões chamadas “azul, vermelho, amarelo” etc terem monstros exclusivos. Isso além de algumas evoluções só serem obtidas por troca, quando um pokémon evoluía ao chegar para o companheiro de jogo, que conectava seu GameBoy ao do colega para trocá-lo.

Ter todos, ver como lutam, e recomeçar o jogo para cumprir com os mesmos desafios e ver como cada pokémon funciona diante deles: cada batalha, cada luta de ginásio para obter as insígnias que o graduam como treinador, cada aspecto funcional de voo ou surfe, instigavam o jogador a vivê-la com monstros diferentes. E, assim, esta simplicidade aumentava a vontade de jogar, de modo que, com toda a certeza, “Pokémon” é o jogo que a minha geração mais zerou repetidas vezes entre todos os títulos da época. De longe.

Embora tenha sua historinha, da máfia Rocket operando no submundo para desenvolver o superpoderoso monstro Mewtwo, lideradas pelo grande vilão Giovanni – o qual descobre-se que é o líder do ginásio dos pokémons planta na cidade de Veridiana – o jogo é focado em vencer líderes de ginásio e o seu autodeclarado rival, Gary. Curioso porque em nenhum momento o jogador declara ter algo contra ele, mas é isso. Simples.

E isso só funcionava porque tinha apoio no desenho animado, que aperfeiçoava a estrutura social daquele mundo, com a máfia Rocket fazendo mais sentido, e aprofundava personalidades, construindo Gary como um garoto mimado. Neto do professor Carvalho, cientista que desenvolve os pokémons iniciais Charmander, Bulbassauro e Suirtle, ele tem ciúmes do apreço do tio pela personagem principa, que no desenho é Ash, no jogo é o jogador. Joga-se, portanto, imaginando-se neste cenáriol.

Ultrapassou o tempo

Atualmente, jogo não deve aos melhores gráficos e jogabilidade da geração

Não só pela evolução do jogo nos últimos anos, Pokémon sempre encantou fãs. Quem não tinha GameBoy Color ou Advanced, ainda assim jogava títulos mais antigos via emulador. Dos velhos computadores com monitor de tubo até os celulares de hoje, seguem eles lá. Recentemente joguei “Pokémon – Fire Red” e zerei com Blastoise, Hitmonlee, Moltress, Venomoth, Persian e Snorlax, uma combinação sui generis de quem já está acostumado a zerar periodicamente.

Não tem muita explicação: facilidade para zerar, previsibilidade, sensação de variedade, referência permanente ao desenho (no caminho contrário ao original, já que o jogo veio antes, mas passou a ser apoiado pelo anime). Isso, só isso, fez “Pokémon”. O que evidencia o quanto o universo dos games independe de produções suntuosas, e pode ser desafiador e divertido operando no mínimo, conforme discutimos semana retrasada com “Carmen Sandiego”.



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