
Bring Me The Horizon e a rara inovação no metalcore
O início dos anos 2000, como já afirmado anteriormente em texto sobre Paramore, foi marcado por uma multiplicidade de sons que se espalharam dentro do rocknroll, o que foi desencadeado pela falência do grunge e do hard rock oitentista, ambas sem que houvesse uma transição exata para outra geração de músicos. O mesmo não tinha ocorrido em décadas anteriores, quando Black Sabbath e o heavy metal, assim como Led Zeppelin, Deep Purple e o hard rock, nasceram sob influência da geração fundadora, de Jimi Hendrix, Frank Zappa, Janis Joplin. O rock progressivo, por sua vez, funda-se nos anos 1970 e trilha caminho próprio, quase sempre à sombra dos outros subgêneros (exceção, Pink Floyd), já que muito mais sofisticado.
Por isso, dentre as muitas manifestações dos anos 2000, estabilizou-se o metalcore como um misto de influências do trash oitentista com o grunge, incorporando elementos tribais e o vocal gutural de Sepultura, talvez a mais disruptiva entre as bandas do trash, que emerge no máximo de sua originalidade em meados dos anos 1990. Pantera, possivelmente, a acompanhou nesse momento de ebulição criativa que daria no chamado “new metal”, o qual, quando deixou de ser “new”, foi dando na nomenclatura “metalcore”. Slipknot foi certamente o nome de maior expressão não só deste subgênero, mas de todo o heavy metal dos anos 2000 e 2010, dada a excentricidade e instabilidade de sua concorrente de primeira hora, System of a Down.
Repetitividade travou o gênero
Bringe Me The Horizon ousou, com sucesso, sair do mesmo
O metalcore, embora de boa palatabilidade musical, visto mesclar o peso e a agressividade do trash metal à agitação limpa e contagiante do grunge, esbarrou nalgo fundamental para seu espalhamento a ponto de fazer frente ao gênero pop, sonho de todo rockeiro para seu estilo: o som foi repetitivo e pouco criativo. Bandas como Machine Head, Five Fingers Death Punch, Parkway Drive levantavam fãs, mas não encantavam além das falanges já predispostas seja por fanatismo pelo trash ou iniciação musical pelo grunge.
Esse segue o sintoma do gênero, mas o conjunto britânico Bring Me The Horizon parece romper com a inércia do metalcore nos anos recentes. Parcerias ousadas como com o fenômeno japonês Babymetal – esta, sim, de uma escola musicalmente mais frutífera, o J-Rock –, a pasticheira Ghost ou o pop de Ed Sheeran, além de uma flexibilidade maior entre estilos do rock e pop, fazem da banda o principal nome contemporâneo no mercado americano. Banda inglesa, mas longe do mercado europeu, por onde o velho power metal derivou ao folk de celtas e vikings metaleiros.
O álbum do guarda-chuvinha
Álbum "That's The Spirit" e sua faixa abertura, "Doomed" (abaixo), ao vivo com orquestra em 2016
Assim pode ser referido “That’s The Spirit” (2015), álbum que marca a inflexão da banda, do estilo quase black metal de seus anos iniciais para um rocknroll introspectivo, de profunda imersão em sonoridades múltiplas e densas, para momentos de agressividade que denotam reflexão e revolta. Um conjunto de associações estéticas que colocam a banda à frente de suas congêneres, quanto a processo criativo. Minimalista até em sua capa, em que o fundo preto é sobreposto apenas por um guarda-chuva em linha grossa e traço simplificado, com gotas que caem não sobre ele, mas dele, como um sinônimo de tentativa de proteção e falha em consegui-la, uma metáfora para o misto de fragilidade e resiliência expressa por suas canções.
Destaque para a faixa inicial, “Doomed”, um convite à banda que se utiliza amplamente do pop, flertando com Linkin Park, que para muitos é a lembrança saudosa do rockeirismo perdido na adolescência, outros da iniciação jamais abandonada. A faixa 3, “Throne”, que começa com seu techno típico dos anos 2000, avançando para o alinhamento a Linkin Park (receita do álbum), assim sintetizando os contornos de recolhimento e grito posterior que marcam o disco. É no que ele se diferencia da banda que lhe é paraninfa: em Linkin Park, o ponto de introspecção não é tão definitivamente claro. A faixa 5, por sua vez, assenta-se no clássico do metalcore: a agitação que bebe em Nirvana, a agressividade que vem do Slipknot.
Transição incorporada
Duetos com Ed Sheeran (acima) e Babymetal (abaixo) oxigenam a banda
O que poderia ser apenas uma experiência isolada, como Metallica e seu clássico Black Album, jamais repetido e retornado como pastiche em “Death Magnetic”, tornou-se um balizador do restante da carreira de Bring Me The Horizon. Em “POST HUMAN: SURVIVAL HORROR” (2020) e “POST HUMAN: NeX Gen” (2024), a banda retorna a maior peso, mas incorpora os elementos pop e mescla a elementos hardcore tradicionais, saindo daquele experimentalismo enriquecida. Duetos com Ed Sheeran, em 2022, com a música do cantor pop britânico “Bad Habits”, e “Babymetal”, essa última na canção “Kingslayer”, do álbum de Bring Me The Horizon de 2020, demonstram a habilidade desenvolvida pela banda de oxigenar-se noutras mentes criativas, e assim oferecer ao rock algo que lhe falta neste século: inovação.
Abaixo, as canções com Ed Sheeran e Babymetal.